Que bela pedra. Tamanho e formato perfeito. Tomou impulso,
correu e chutou-a com toda a força. Assistiu a trajetória da pedra em direção
ao muro, até espatifar-se, convertendo-se em fragmentos. Fantástica cena. Sublime.
Mas qual era o sentido daquilo? O que o motivava a chutar a
pedra? Por que se divertia com isso? Havia algum objetivo?
Pensou nestas questões. E teve a ideia de aplicá-las à sua
vida.
Sentiu que não conseguia respostas satisfatórias. Sua mente
ficava vagando no vazio, em busca de uma solução, mas não encontrava nada.
Sentiu-se como aquela pedra, arremessada por uma força
externa, sem uma razão aparente, que ele não conseguia compreender. Percebeu
que se encontrava no início da trajetória, mas já sabia qual era seu iminente
fim. Seria chocar-se contra o muro, destruir-se, e deixar de existir.
Difícil entender a razão da existência, durante tão pouco tempo.
As pedras apenas vislumbram o ambiente ao redor, como vultos, enquanto dirigem-se
ao fim, em alta velocidade. Será que pessoas são pedras? Ou será que podem
olhar ao redor, e tentar compreender: quem chutou a pedra, e por que fez isso?
O que fazer enquanto está atravessando o ar? Como aceitar o fim derradeiro, o
muro da morte?