segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Apoteose em Lágrimas

 Seu corpo frágil elevou-se ao céu
Iluminado pela luz do luar
Numa apoteose deslumbrante e gloriosa
Iria embora, para não mais voltar

Olhar fixo em sua ascensão cintilante,
Divina, presa na própria revelação
Mistério noturno, alma flamejante
que se eleva em meio à escuridão

Envolta por um fulgor divino
Ilha de luz no mar obscuro
Banhada pelas graças do Destino
Glorificando seu espírito puro

Esplendorosa sapiência em si despertou
E a Verdade pode então contemplar
Sua mente clareada, a alma libertou
A si mesma conseguiu encontrar

Descobriu quem era, finalmente!
Mas não poderia na Terra morar
Seu rosto entristeceu novamente
Para o céu deveria flutuar...

Perscrutando-a pela última vez
Não pude deixar de relembrar           
das tardes em que passamos juntos
Observando a oscilação do mar

E antes de sua partida
Lançou-me um último olhar
Anjo divino, estrela renascida
Ao meu lado não poderia ficar.

Ela subia, suave e lentamente
Enquanto o fogo sagrado da emoção
Era apagado pela lágrima latente
Que gotejava em seu triste coração.

sábado, 10 de dezembro de 2011

Cemitério de Esperanças

Entre todas as coisas do mundo, eu desejava apenas uma.
Como quase todo menino de quatorze anos, eu era apaixonado por uma garota. Juliana e eu éramos amigos, talvez apenas colegas. Era uma garota extremamente bonita, inteligente e popular. Todos no colégio a conheciam e a adoravam. Costumava ser divertida, extravagante e sempre amigável com todos. Também falava muito, embora isso nunca chegasse a ser irritante. Tinha uma incomum capacidade de cativar as pessoas.
Eu era um garoto muito quieto e solitário, não tinha nenhum amigo. Ficava no canto da sala de aula, em silêncio, tendo como companhia apenas meus pensamentos, tristes e amargos.
Certa manhã, Juliana sentou-se na carteira do meu lado. Ao perceber a presença dela, comecei a suar frio, pois em segredo, eu nutria uma profunda admiração por ela, um fascínio diante de sua beleza e simpatia, uma paixão. Ela perguntou meu nome, sorridente, e em pouco tempo, estávamos conversando descontraídamente, como se já fôssemos amigos há muito tempo. Enquanto a olhava, não conseguia acreditar no que estava acontecendo, pois um garoto como eu conversando com a menina mais popular do colégio era algo simplesmente extraordinário. A verdade é que para Juliana, aquilo era algo absolutamente normal, pois era acostumada a ser amigável com todos. Ela nem fazia ideia do que aquele gesto simples significava para mim.
Tímido e isolado, eu passei a ver em Juliana minha única e verdadeira amiga, de um modo que ela não poderia nem mesmo imaginar. Era meu único subterfúgio, um oásis milagroso num deserto de solidão.
Naquele ano, o surgimento de um novo vírus da gripe, que ameaçou tornar-se uma terrível epidemia, causou o recesso de todas as escolas do estado. Com efeito, tivemos um mês inteiro de férias, e em seguida, dois meses exaustivos de reposição de aulas. Estudávamos de manhã e à tarde, até as sete horas da noite.
Naquela ocasião, após a aula, os alunos aguardavam ansiosamente seus pais lhes buscarem, na frente dos portões da escola. Um por um, todos foram embora, até que restaram apenas eu e a Juliana. Ao me dar conta disso, meu coração disparou. Queria muito conversar com ela, mas, mesmo que já tivéssemos conversado antes, não tinha coragem nem de olhá-la. Para aliviar minha insegurança, foi ela quem falou. Cumprimentou-me, e logo começou a puxar assunto. Em pouco tempo, estávamos conversando animadamente. A cada segundo, sentia que gostava mais dela. Os minutos transcorriam, enquanto eu desejava que minha mãe ainda demorasse muito, apenas para prolongar aquele momento sublime.
A rua escura era iluminada somente pela luz fraca e alaranjada dos lampiões. Em meio à penumbra, um homem vinha caminhando pela calçada. Era alto e magro, e parecia jovem. Tinha o rosto coberto pelo capuz de seu moletom, e vestia uma bermuda surrada. Caminhava apressado, tentando não fazer barulho com o estalar de seus chinelos. Entorpecido pela presença de Juliana, eu não percebi sua chegada. Subitamente, o rapaz se aproximou da garota, puxando um revólver da cintura. Ordenou que ela parasse de gritar e entregasse a bolsa, mas Juliana, tomada pelo pânico, cometia a atitude irracional de impedir o assalto. Apertava com força a mochila, relutando em entregá-la.
Eu apenas observava, atônito e sem reação. O tempo congelou, e a Terra parou de girar. O único som eram as batidas frenéticas do meu coração.
Faltavam poucos segundos, eu já podia ouvir o disparo contra Juliana.
Naquele momento derradeiro, tentei pensar em fazer algo, mas também estava em pânico. Numa fração de segundos, comecei a refletir.
Percebi que a minha vida era triste e vazia, e que somente quando estava perto da Juliana a felicidade parecia existir. Concluí então, que a minha vida não valeria a pena sem ela. Percebi que a amava mais do que a mim próprio. Em um impulso instintivo, empurrei Juliana com força para o lado, protegendo-a, no momento em que ouviu-se o disparo.
Senti a bala perfurar meu ombro, e uma dor lascinante tomou conta de mim. Olhei para o ombro, e a visão do ferimento golfando sangue me deu náuseas. Minha visão ficou embaçada, enxergava apenas contornos disformes, flashes coloridos... eu não conseguia respirar. Caí no chão, enfraquecido. Gritos distantes ecoavam em meu ouvido. Fechei meus olhos...

Acordei lentamente. O ombro enfaixado latejava. Me encontrei deitado num ambiente de paredes brancas. Na cabeceira da cama, havia um arranjo de margaridas alvas. Minha mãe me observava, chorosa.
 - Juliana está bem? – perguntei sem demora – o que aconteceu com ela?
- Acalme-se filho, ela está bem graças à você. Não fique agitado, por favor. Ainda está se recuperando.
- Mãe, eu preciso vê-la.
- A Juliana está aqui no hospital há algum tempo, esperando que você acordasse. Foi ela quem lhe mandou estas flores. Vou chamá-la.
Minha mãe sorriu, seu orgulho estampado no rosto.
Minutos depois, Juliana entrou no quarto. Sua face irradiava felicidade e gratidão.
- Oi – disse eu simplesmente.
- Foi a coisa mais corajosa que já fizeram por mim. Obrigada.
Ela sentou ao lado da minha cama.
- Você é louco! – indagou ela repentinamente – foi sorte não ter morrido! Por que fez isso?
- Porque eu lhe amo.
O silêncio falava por si mesmo. A garota se aproximou de mim e beijou meu rosto. Foi o momento mais glorioso da minha vida.
Passamos a tarde juntos. Conversamos muito, e eu não conseguia ocultar a felicidade de estar ao lado de alguém como a Juliana, e saber que ela era grata por algo que fiz. Senti que faria aquilo de novo, pois valera a pena. As horas transcorreram rápido, e logo a noite caiu. Os pais de Juliana vieram buscá-la, me agradeceram repetidamente, emocionados e com convicção, a ponto de chorarem. Depois deu alguns minutos eu estava novamente sozinho, e abateu-se sobre a mim a solidão. Mas ao fechar os olhos, surgia na minha mente o rosto belo e sorridente de Juliana. Relembrei de todos os momentos que passei naquela tarde. Tinha sido o dia mais feliz da minha vida.

No outro dia eu acordei com minha mãe chorando.
- O que houve?
- Filho, a boa notícia é que você pode ir para casa hoje.
Eu tive medo de saber a má notícia.
- Sabe, aconteceu uma coisa... – ela hesitava.
- Diga logo!
- A Juliana. Ela, estava vindo para o hospital a pé, ela... foi atropelada.
A verdade me atingiu como uma martelada no crânio. Minhas entranhas se contorceram. Meu coração parou.
- Ela morreu – minha mãe caiu no choro de novo.
Aquilo não podia ser verdade. Era inconcebível. Depois de tudo... eu havia tomado um tiro por ela, tudo em vão... Deus ou o destino deveriam estar brincando comigo. Nunca mais veria aquele lindo rosto sorrindo para mim.
Desejei que a bala tivesse sido letal. A morte seria preferível. Eu a amava! As lágrimas escorreram livremente. Chorei como uma criança, que eu ainda era. Encostei a cabeça na parede fria. Continuei chorando. O momento mais triste da minha vida.
Depois desse episódio, levei a vida da pior forma possível. Tudo perdeu o sentido, nada mais tinha graça. Fui a pessoa mais infeliz do mundo. Casei com uma mulher insuportável, apenas para manter os costumes da sociedade.
E agora, estou deitado na cama, ao lado de uma amante, rabiscando este pedaço de papel. As lágrimas me vêm aos olhos novamente, do mesmo modo que há quinze anos atrás, enquanto eu relembro meu passado.
Esqueçam os filmes e as novelas. Tenham a certeza de uma coisa:
Tudo pode dar errado.

Migalhas de Existência

Não consigo disfarçar o desprezo e o descaso na minha voz. Quando observo as pessoas ao meu redor, vejo que se parecem tão superficiais, tão pouco inteligentes, tão efêmeras e insignificantes... Sou superior a todos
Eles não fazem ideia do que se passa na minha mente. Pensamentos loucos que flutuam num fluxo constante de sapiência, e me fazem refletir sobre os mistérios insondáveis e inexplicáveis, já perdidos nas profundezas do abismo da ignorância.
Mas não são capazes de fazer o que faço, porque são limitadas, ignorantes.
Preocupam-se apenas com suas vidas mundanas, sua existência medíocre, seus problemas sem importância. E um dia, depois de pouco tempo, elas morrem, seus corpos se tornam meros objetos fadados à decomposição, e suas consciências deixam de existir...
Mas assim como eu, elas caminham sérias, e não posso saber o que pensam. E se estão pensando algo parecido com o que penso agora? E se não são tão incapazes assim? Espere, eu também sou humano! Um dia eu irei morrer! E todas as minhas reflexões não farão diferença alguma, também serão em vão... talvez eu seja tão efêmero quanto eles. Que horrível! Pensei que fosse especial, mas sou um grandioso “ninguém”...
Então, essa vida não faz o menor sentido. O que me resta é aproveitá-la antes que seja tarde.
Vamos desfrutar das migalhas.

Tédio

Eram nove da manhã. Fazia um belo dia, embora ninguém reparasse nisso. Afinal, todos tinham assuntos mais importantes para lidar do que o tempo, como por exemplo, documentos e papeladas. Roberto bebericava seu café, a única coisa que o mantinha acordado naquela manhã sonolenta. Suas pálpebras pesavam. Ele tivera uma péssima noite de sono. Sua escrivaninha estava perfeitamente organizada, naturalmente. Ao contrário de seus pensamentos. Lia os e-mails, sem absorver uma única palavra. Josias, seu colega, comentou: “Roberto, você está bem? Está pálido!”. De fato, suava, mesmo com o ar condicionado. Parecia febril. Manteve a calma, e continuou seu relatório, pois deveria finalizá-lo ainda antes do almoço. Se aquilo poderia ser chamado de almoço, uma fritura na padaria da esquina, todos os dias. Roberto continuava a escrever seu relatório, quando de chofre, parou. Sentiu um súbito tédio, profundo, na alma. A sala estava completamente silenciosa, a não ser pelo som do ar condicionado. Todos absortos em seus afazeres. Inúteis afazeres, refletiu por um instante. Todos os dias acordava cedo, ia para o escritório, no mesmo ambiente insípido de paredes brancas, com as mesmas pessoas tão chatas quanto ele, fazia a mesma coisa vã de sempre, que não valia nem mesmo seu razoável salário. Almoçava mal, e voltava ao ofício. Chegava em casa exausto, às oito, cada filho em seu quarto, em seus respectivos computadores. Jantava solitário, tomava banho e dormia, somente para acordar em outro dia exatamente igual. Sentiu então, uma inexorável vontade de sair daquela prisão. Levantou-se e olhou pela janela do prédio. Através do límpido céu azul, planava um imponente pássaro, de asas abertas, e suas penas refletiam a luz do sol. Roberto desejou ser um pássaro. Sem problemas, sem estresse, somente a liberdade de voar pelos céus.
Abriu a janela, e em uma repentina loucura, pulou. Esticou os braços, como se fossem asas, planando tranquilamente. Sentiu a brisa suave em seu rosto, e não se assustou. Desejara isso durante toda a sua vida, e agora, parecia perfeitamente natural. Somente sorriu, a felicidade inundando seu coração…
Então um estalo o acordou. Apontou o lápis novamente, e continuou no rascunho do relatório.

Odisséia Mental

Submerso no silêncio e na penumbra da noite, esperava encontrar clareza para os meus pensamentos. Me enganei; a quietude da madrugada parece um zumbido incômodo em meus ouvidos; a ausência de sons e de luz torna-se um vácuo de ideias e sensações, como se nada mais existisse, e eu já estivesse morto. Não surgiram os devaneios delirantes que eu sonhava, para me levarem a outra dimensão onde a imaginação alcança a amplitude máxima. Nada disso. As coisas não acontecem dessa maneira mágica e fascinante, como eu acabei descobrindo. A realidade é fria e dura, sem emoção. Apesar disso, espero ter conseguido transmitir essa frieza nas letras que aqui escrevo, e talvez elas façam algum sentido depois de concluídas.
Em minha imaginação idealista de adolescente, almejava escrever uma mensagem que abalasse as pessoas, e transmitisse uma importante reflexão, para tentar ajudar as pessoas a pensarem e a agirem da melhor forma possível neste mundo perturbado e perverso. Na verdade, no fundo do meu coração, meu verdadeiro desejo não era fazer o bem às pessoas. Pelo contrário, era um desejo profundamente egoísta: era o desejo de alcançar a glória.
Depois de muito tempo refletindo, percebi que nada no mundo fazia sentido, os prazeres mundanos, a felicidade terrena, tudo isso era passageiro. Pois um dia eu iria morrer e minha consciência desapareceria do mundo. Meu corpo se tornaria um mero objeto fadado à decomposição, até se tornar poeira e finalmente, desaparecer também. Porque então desejar a felicidade, se tudo isso se acabaria? A felicidade não é eterna. Portanto, não tem importância, concluí. Decidi buscar as coisas eternas.
Percebi então, que havia uma maneira de eu me tornar imortal. Uma única maneira: fazer algo importante e deixar um legado. Algo pelo qual as pessoas se lembrariam de mim. Meu objetivo se tornou esse: realizar algo grandioso, importante, que fizesse a diferença, para que então eu fosse reconhecido pelo meu merecimento. Finalmente, a glória! E então meus atos se ficariam eternizados, para sempre imortais. Meu nome seria lembrado pelas gerações futuras, e assim, eu jamais morreria.
"Por mais que se tenha uma vida satisfatória, agradável, isso não seria o suficiente. Ser feliz não é o suficiente, porque nós somos efêmeros. Porque no fim todos morrem. Mas o segredo não é viver para sempre, e sim criar algo que viverá."
Analisei minhas habilidades, meus dons. Concluí que não era um completo inútil. Havia um único talento que talvez servisse de instrumento para realizar minha nobre tarefa: a escrita. Talvez eu não fosse um escritor genial, mas tinha sim um talento considerável, que poderia ser lapidado e aperfeiçoado.
Resolvi, então, começar meu projeto. Queria escrever algo magnífico e grandioso, todavia, eu jamais vivenciara algo assim. Nunca vivi grandes emoções, minha vida sempre fora terrívelmente chata e tediosa. O tempo passava rápido e eu tinha a sensação de que não estava aproveitando nada, mergulhado no tédio e na rotina. Decidi escrever sobre isso.
Meus primeiros textos falavam sobre o pior mal que assolava minha vida. Comecei descrevendo as banalidades comuns a praticamente todos, detalhadamente. E no fim, não ficou “tedioso” como se poderia esperar. No fim, as coisas simples pareciam algo grande, detalhadamente descrito. Fiquei satisfeito com o resultado.
Até o momento, não consegui alcançar meu objetivo máximo. Mas durante as tentativas, aprendi muito, conheci melhor a mim mesmo, e talvez tenha aprendido a transmitir algo positivo para as pessoas com as quais convivo. Cada gesto ou palavra tem um poder imenso. Pode salvar alguém, assim como pode destruir. Espero ter aprendido a agir da melhor maneira possível.
Eu sonhava em fazer algo grandioso, mas no fim, foram as coisas pequenas que fiz que tiveram importância.

Gênesis do Blog

Olá a todos.

Neste blog, pretendo apresentar alguns de meus textos, com a intenção de  aprimorar minha escrita, e a opinião de espectadores é o melhor método para saber como estou me saindo. Portanto, a participação é essencial. Não deixe de comentar dando dicas, sugestões.
Tenho outros blogs, como por exemplo, o Mão da Glória, que foi a minha primeira experiência com o blogspot. Não foi desastroso, eu diria, mas contém muitas opiniões pouco maduras e pouco desenvolvidas, visto que aperfeiçoei muito meu conhecimento em pouco tempo. Além disso, estava uma bagunça total, tanto a estrutura quanto o conteúdo. Desse modo, pretendo manter esse Ego Cerebral como o oficial a partir de hoje.

Obrigado pela atenção.