Contemplação
Escrito em 13 de maio de 2012.
A pequena garota sentia a grama fria e úmida de orvalho sob
seus pés. A grande esfera solar surgia cintilante através das nuvens cinzentas, após uma breve garoa, no fim daquela tarde. Os raios solares alaranjados
refletiam nas últimas partículas de chuva suspensas no ar, formando um arco-íris. O
vasto campo verde estendia-se até perder-se no horizonte, em todas as direções.
Só existia a relva, o céu e o arco-íris. E ela, a pequena garotinha de vestido
molhado.
Que sensação fantástica de paz e liberdade! Não haviam
problemas, preocupações ou medos. Apenas ela, sozinha naquele imenso vazio,
para sentir as gotas de água fria caírem sobre sua pele, deitar-se na relva
macia, contemplar o céu, o arco-íris, a beleza sublime do Universo.
Até onde iria aquele arco-íris? Haveria, no fim, um pote de
ouro? Se não, o que haveria? Sentiu uma profunda curiosidade em relação à tudo
o que a cercava, uma vontade irresistível de descobrir, tudo o quanto fosse
possível, acerca da natureza das coisas.
Começou a caminhar em direção ao Arco-íris.
A ansiedade ia aumentando. Quando percebeu já estava
correndo, o mais rápido que conseguia. Mas o arco-íris parecia continuar à
mesma distância sempre. Por mais que ela corresse até cansar, ele nunca se
aproximava.
Não se desesperou, pelo contrário: sorriu. Era um desafio.
Já sentia a adrenalina percorrer seu corpo, o coração pulsar
mais forte. Correu e correu, o mais rápido que podia, sem parar, sem se cansar.
Não parava de fitar arco-íris, pois a visão de seu objetivo lhe dava força e
ânimo.
Por fim, o sol tocou o horizonte oeste, enquanto o lado
oposto do mundo mergulhava na escuridão azulada da noite. A Estrela Vespertina
surgiu no céu, a primeira da noite, e a mais brilhante.
O Arco-íris se desfez, assim como a palidez das nuvens.
Foi chuva de verão, rápida e passageira.
Num piscar de olhos, a escuridão do firmamento preencheu-se de pontos
cintilantes, suspensos no infinito.
A garota parou para respirar, exausta. Não havia mais
arco-íris para perseguir. Deitou-se no chão, e olhou para o céu noturno.
Infinitas estrelas piscavam para ela, deleitando sua alma em fascínio, diante
da majestade incompreensível do Universo.
Mas por que? Por que era incompreensível? Era algo tão belo
e perfeito que sua alma ansiava por compreender. No entanto, por mais que
pulasse em direção às estrelas até amanhecer, nenhum salto seria o suficiente
para levá-la até o espaço. Jamais tocaria a estrelas.
Foi nesse momento em que percebeu que jamais compreenderia o
Universo. Diante da beleza e imensidão daquele céu infinito repleto de
estrelas, sentiu-se pequena e frágil. Percebeu o quanto era efêmera e
insignificante, e sentiu-se triste, desolada.
Contudo, o que existia ao redor dela ainda era muito belo, e
sentiu-se grata por ter a benção de poder sentir e contemplar tudo aquilo.
Mas que bênção seria essa? Marina refletiu por um instante,
até dar-se conta de que a benção era sua própria vida.
Talvez não fosse tão efêmera assim, pois fora-lhe dada o dom
de viver, e de poder apreciar a existência. Por mais que nunca chegasse a
compreender o Universo por completo, sempre poderia contemplá-lo. E isso
tornava sua existência algo fascinante, e também inexplicável.
Voltou a observar as estrelas, ciente de que nunca chegaria
até elas, mas mesmo assim sentiu-se próxima delas. Apenas de olhar já podia
sentir que estava diante de algo fantástico e misterioso por natureza.
Contemplou o Universo, e percebeu que fazia parte dele.