sábado, 21 de janeiro de 2017

Gratidão

À Giovanna Capera

Por onde ando, deixo meus cantares.
E onde canto, meu amor transborda.
Abrem-se os medos: pedras tumulares
Ante o Belo que teu rosto me recorda.

A palidez da noite fria agora morre.
Surge no céu um mar azul profundo
E não há nada mais sublime neste mundo
Que o teu sorriso, que me abraça e me socorre.

Vou sondar as ondas do segredo.
Abraçar a terra, e beijar o vento.
E morrer a cada dia, no degredo,

Até vê-la enfim, sem mais tormento.
Ver teu sorriso de nuvem passageira.
Teu olhar frugal de noite negra.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Poema de Amanhã

Quando tiver tempo, estudo.
Depois de estudar, trabalho
Quando ficar rico, faço caridade.
Amanhã me arrependo do mal que fiz.

O Amanhã, esta incógnita,
Este mistério etéreo que não existe
Nem pode vir a ser.
Mera projeção do pensamento
Inquieto, almejando saber seu desfecho
Frente ao desconhecido, que o apavora.
A felicidade plena ou a morte
Estão fora de alcance.
Residem na inóspita e distante
Terra do Amanhã.
Onde ninguém pode chegar.
Tudo se movimenta,
Rumo à esta direção
Mas nunca chega.
Produto imaginário dos anseios
Da alma, que o tece em meio à duvida.
Pairamos diante deste enigma, paralisados.

O dia de hoje é vazio, é silencioso.
É desbotado. Nele nada importa.
A distância aumenta do nostálgico mundo
De sonhos infantis e lembranças vivas
De um passado que se desfaz.
E à frente, o místico mistério
Que a tudo engloba, mas nunca surge.
Lá tudo somos, tudo podemos.
Amores e ódios, paixões e guerras.
Deuses e Ragnaroks. Arrebatamento.
Tudo nos aguarda no tempo que não vem.
Inacessível.
Intocável.
Invisível e Intangível.
Projeto nele meus desejos, meu ego.
Lá sou tudo, sou sábio, sou belo.
E o dia de hoje… cada vez mais cinza.

Quando ficar rico, faço caridade.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Cinema do Retorno Eterno

Cansei de ir ao cinema sozinho
Cansei de contar os dias para uma data inexistente
Nada do que faço agrada a mim mesmo.
Meus revezes são fúteis.
Minha fortuna, vã.
Pergunto-me, não mais o sentido,
Mas a graça que há em viver.
Se é que há alguma...                  
O pranto não vem,
Nem sequer o riso.
Não há êxtase, mas anestesia.
Uma alma magra num mar de marasmo medíocre,
É tudo o que sou.
Uma criança perdida dos pais
Que se afasta de casa cada vez mais
E por fim, chega a lugar nenhum
E vai morar no Esquecimento.

Os natais vêm e logo se vão, um após o outro.
Sem nada de novo.
Um após o outro…
Um relógio do tempo quebrado e jogado fora
E tudo se repete
Como um filme que já vi mil vezes
Mas que o enredo é fraco
E tudo se repete…