terça-feira, 8 de novembro de 2016

Intensidade

Intensidade

Levanta da cama.
Abre a janela.
Bebe um copo d’água.
Sai de casa, vai para algum lugar.
Pra onde não importa.
Anda em passos lentos, sem destino ou não.

A cada passo que deres,
A cada copo que beberes,
Faça-o com profundo amor –
Ou furor intenso! Do fundo do teu âmago
Dedica-te. Derrama-te em cada
Ato, em cada gesto, em cada fala.
De conteúdo, de paixão, enche a vida.

Se não canto, ao menos grito.
Se não rio, ao menos choro.
Se não escrevo, leio.
Não sou feliz: mas vivo!
Há quem diga que só se é feliz depois da morte…

Tudo faça como quem agradece
Por esta dádiva incerta,
A bênção trágica que é existir.
Seja grato. A Deus, à própria vida…
Não sei a quem.
Talvez a ninguém. Mas seja grato!

....

Ou não – tu é quem sabes.

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Madrugada Eterna

Madrugada Eterna

O coração de um sol que já não pulsa.
A vontade vazia de um jovem triste
Que não acorda, nem dorme – só existe.
O Escuro do quarto, a consciência avulsa.

Tudo… tudo o que há, a treva engole
E, pairando em frente aos meus medos
Flutuo, com pavor, como entre dedos,
Nas mãos magras desta mãe sem prole!

Ecoa, porém, em meu crânio sonolento
A energia caótica de um trôpego alento:
Da natureza, a força egoísta e falsa
Também tudo apanha, numa rede esparsa!

Ó noite de silêncio ininterrupto!
Converta-me num ser mais vivo
Preenchido do instinto mais lascivo
Tira-me o arbítrio de ser-ou-não corrupto…

Faça-me um mero bicho entregue à sorte
Neste chão frio em que não há morte
nem vitória, nem dor, nem ganho…

Madrugada Universal dos sonhos meus,
Que não acaba, e nem mata os filhos teus
Deixa-me morrer em teu ventre estranho!