sábado, 10 de dezembro de 2011

Odisséia Mental

Submerso no silêncio e na penumbra da noite, esperava encontrar clareza para os meus pensamentos. Me enganei; a quietude da madrugada parece um zumbido incômodo em meus ouvidos; a ausência de sons e de luz torna-se um vácuo de ideias e sensações, como se nada mais existisse, e eu já estivesse morto. Não surgiram os devaneios delirantes que eu sonhava, para me levarem a outra dimensão onde a imaginação alcança a amplitude máxima. Nada disso. As coisas não acontecem dessa maneira mágica e fascinante, como eu acabei descobrindo. A realidade é fria e dura, sem emoção. Apesar disso, espero ter conseguido transmitir essa frieza nas letras que aqui escrevo, e talvez elas façam algum sentido depois de concluídas.
Em minha imaginação idealista de adolescente, almejava escrever uma mensagem que abalasse as pessoas, e transmitisse uma importante reflexão, para tentar ajudar as pessoas a pensarem e a agirem da melhor forma possível neste mundo perturbado e perverso. Na verdade, no fundo do meu coração, meu verdadeiro desejo não era fazer o bem às pessoas. Pelo contrário, era um desejo profundamente egoísta: era o desejo de alcançar a glória.
Depois de muito tempo refletindo, percebi que nada no mundo fazia sentido, os prazeres mundanos, a felicidade terrena, tudo isso era passageiro. Pois um dia eu iria morrer e minha consciência desapareceria do mundo. Meu corpo se tornaria um mero objeto fadado à decomposição, até se tornar poeira e finalmente, desaparecer também. Porque então desejar a felicidade, se tudo isso se acabaria? A felicidade não é eterna. Portanto, não tem importância, concluí. Decidi buscar as coisas eternas.
Percebi então, que havia uma maneira de eu me tornar imortal. Uma única maneira: fazer algo importante e deixar um legado. Algo pelo qual as pessoas se lembrariam de mim. Meu objetivo se tornou esse: realizar algo grandioso, importante, que fizesse a diferença, para que então eu fosse reconhecido pelo meu merecimento. Finalmente, a glória! E então meus atos se ficariam eternizados, para sempre imortais. Meu nome seria lembrado pelas gerações futuras, e assim, eu jamais morreria.
"Por mais que se tenha uma vida satisfatória, agradável, isso não seria o suficiente. Ser feliz não é o suficiente, porque nós somos efêmeros. Porque no fim todos morrem. Mas o segredo não é viver para sempre, e sim criar algo que viverá."
Analisei minhas habilidades, meus dons. Concluí que não era um completo inútil. Havia um único talento que talvez servisse de instrumento para realizar minha nobre tarefa: a escrita. Talvez eu não fosse um escritor genial, mas tinha sim um talento considerável, que poderia ser lapidado e aperfeiçoado.
Resolvi, então, começar meu projeto. Queria escrever algo magnífico e grandioso, todavia, eu jamais vivenciara algo assim. Nunca vivi grandes emoções, minha vida sempre fora terrívelmente chata e tediosa. O tempo passava rápido e eu tinha a sensação de que não estava aproveitando nada, mergulhado no tédio e na rotina. Decidi escrever sobre isso.
Meus primeiros textos falavam sobre o pior mal que assolava minha vida. Comecei descrevendo as banalidades comuns a praticamente todos, detalhadamente. E no fim, não ficou “tedioso” como se poderia esperar. No fim, as coisas simples pareciam algo grande, detalhadamente descrito. Fiquei satisfeito com o resultado.
Até o momento, não consegui alcançar meu objetivo máximo. Mas durante as tentativas, aprendi muito, conheci melhor a mim mesmo, e talvez tenha aprendido a transmitir algo positivo para as pessoas com as quais convivo. Cada gesto ou palavra tem um poder imenso. Pode salvar alguém, assim como pode destruir. Espero ter aprendido a agir da melhor maneira possível.
Eu sonhava em fazer algo grandioso, mas no fim, foram as coisas pequenas que fiz que tiveram importância.

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